Pertencimento

 

O princípio do Pertencimento é um dos cinco princípios da vida em aulas.




Tudo está conectado


O princípio do pertencimento trata das relações estabelecidas entre tudo o que existe no mundo. Certos grupos de conexões se agregam e formam um todo maior, ao qual suas partes pertencem, ainda que mantenham autonomia em relação a certos aspectos em face do todo maior que compõem.

O princípio do pertencimento fala das conexões que se estabelecem entre o que existe, incentiva a inclusão dos seres, amplia nossa visão e nos veda o atalho de procurar a solução de um problema na exclusão do que nos desagrada.

------------------------------------------------

Graus de pertencimento.

O pertencimento tem vários graus possíveis, iniciando-se na convergência de aspectos diferentes que vão formando relações cada vez mais profundas, a ponto de criarem um todo maior ao qual passam a pertencer como partes (numa visão de síntese). Ou as partes vão se especificando e se distinguindo do todo/fonte original, mantendo contudo algumas relações fundamentais que as conectam à fonte (numa visão de análise). 

------------------------------------------------

Pertencimento: O mais importante princípio. Assim como os outros quatro.

O pertencimento é o que há de mais importante na realidade. Assim como a existência, a variação, a autonomia e as forças e contraforças. Cada um, em si, por si, para si, para fazer um retrato íntegro (embora incompleto) da realidade como ela é.

------------------------------------------------

As coisas existem. As coisas pertencem.


Quando falamos do pertencimento e da existência, percebemos que a existência inclui tudo, todas as coisas concretas, abstratas e pessoais existentes na realidade, sendo esse o sistema máximo e infinito - onde tudo está conectado. 


Mas a existência não diz como cada uma dessas partes integrantes da realidade se relaciona com as demais. Quem trata disso é o pertencimento, que forma essas relações e todos os subsistemas que compõem o sistema final - o multiverso da vida.


------------------------------------------------


Pertencimento versus variação.


O pertencimento e a variação convivem em tensão (como, aliás, todos os fundamentos). Por um lado, a variação destrói as velhas conexões e forma as novas, fazendo com que o pertencimento e o sistema sejam dinâmicos e não estáticos. Por outro, o pertencimento limita a variação porque aquilo que é comum não varia apenas porque uma das partes deseja. Assim como a variação e a variedade tornam mais desafiante e complexo o pertencimento, principalmente se esse preserva as diferenças das partes que são agregadas num todo maior.


------------------------------------------------


Pertencimento: o centro descentralizado.


A autonomia torna cada aspecto da realidade no centro de seu próprio universo/sistema. Queiramos ou não, somos o centro do nosso mundo, mesmo quando decidimos que não somos. O pertencimento conecta as autonomias das partes e as recentraliza em torno de um sistema maior formado a partir de sistemas menores.


------------------------------------------------


O pertencimento e as forças e contraforças.


E por fim, o pertencimento e as forças/contraforças conjugam-se muito naturalmente, porque o pertencimento estabelece as conexões e sua polaridade, mas a intensidade, balanceamento e evolução delas se dão por decorrência do princípio das forças e contraforças.


------------------------------------------------


Outras relações do pertencimento.


Aí, vistas as relações do pertencimento com os demais princípios, vale também vê-las com outros tópicos.


Assim, exemplificativamente, existe a relação orgânica entre o pertencimento e os tópicos da inclusão e exclusão, que ao agirem determinam efetivamente o que está incluído e o que está excluído de cada grupo de relações. 


O pertencimento também relaciona-se ao aumento da abrangência da nossa percepção (zoom out) e à restrição/concentração da nossa percepção (zoom in), que formam uma das duplas de aspectos. Outra dupla, as partes e o todo, está totalmente associada visto que o que o pertencimento relaciona são as partes e com isso o que ele forma é um todo maior, o qual em si vai ser parte, junto com outras, de outro todo maior, e assim por diante.


Por fim, a junção do pertencimento com aquilo que é sobre mim (sobre cada um de nós em particular), traz o espaço onde cada um de nós deve trabalhar a nossa relação com o pertencimento e com as relações que nos envolvem.


------------------------------------------------


Várias formas de pertencer.


Sobre o pertencimento podemos também dizer que tudo está conectado, seja positivamente (por uma relação de inclusão), seja negativamente (por uma relação de exclusão). A hipótese mais comum contudo é de que o pertencimento é apenas formado por relações de inclusão e a exclusão coloca os aspectos fora do pertencimento de um dado sistema.

 

O pertencimento não quer dizer apenas que uma coisa está contida em outra coisa maior (esse é apenas o pertencimento espacial-físico das coisas) e sim que algo pode estar conectado a outros aspectos (concretos, abstratos ou pessoais) de diversas formas, formando um todo maior. 


Podemos falar também em pertencimento que liberta e pertencimento que aprisiona. Em relações saudáveis ou relações tóxicas entre aspectos da realidade.


------------------------------------------------

Um berço do pertencimento: a constelação familiar de Bert Hellinger.


A constelação familiar, um competentíssimo método terapêutico, aborda essas exclusões como a causa de muitas disfuncionalidades e as aborda com a expressão "você também faz parte!", inclusive para as coisas ruins de nossas vidas. A constelação é um dos métodos de formação que pode nos ajudar a desenvolver nossas habilidades pessoais para ter uma vida melhor.


------------------------------------------------


Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo.


------------------------------------------------


O pertencimento no cotidiano social.

A gravidade da pena de banimento, ao longo da história, é outra afirmação da importância do pertencimento. E mesmo a pena de prisão, é uma restrição séria a esse fundamento. Participar de uma torcida organizada ou ter um time, ter um partido ou ideologia política com a qual nos identificamos, integrar uma organização, ser natural de uma cidade, de um estado, de um país, pertencer a um grupo social, econômico, étnico... tudo são pertencimentos que se cruzam e sobrepõem num emaranhado de relações.

------------------------------------------------

O pertencer como competência para nossas vidas.


Tornar o princípio do pertencimento numa habilidade por meio de uma formação implica um objetivo pedagógico de desautomatizar a nossa intuição de que a autonomia de cada coisa (abstrata, concreta ou pessoal) que existe implica em que ela não está conectada e que não é influenciada pelos demais aspectos da realidade. Ou seja, precisamos afastar a ilusão de que o estado de uma coisa é determinado apenas por ela mesma.

------------------------------------------------


Pertencimento versus autonomia.


O pertencimento serve também para que reconheçamos que o que torna semelhantes as coisas diferentes é a sua semelhança perante um todo maior, ao qual integram, e que lhes é comum.


De certa forma o pertencimento é "o oposto da autonomia", ou, dito de outra forma, o pertencimento das partes reequilibra a relação em desfavor da autonomia das partes e em favor da autonomia do todo.


Todo princípio - seja o pertencimento, sejam os outros - precisa de uma medida certa em cada situação para tornar a nossa vida melhor. Na medida errada pode torná-la pior. É só a situação real, vivida e centrada na própria pessoa, que é o protagonista do seu próprio universo, que podem ser determinadas as medidas de cada fundamento a cada momento.


O pertencimento que não consegue harmonizar as diferenças (o que é diferente de eliminá-las, sufocá-las ou ignorá-las) é ilustrado na imagem de vários ocupantes de um mesmo bote sendo que cada um rema em uma direção diferente. Numa escala muito mais complexa, isso coloca em risco inclusive a nossa própria existência na sociedade atual com todas as conquistas que alcançamos e tornam a nossa vida mais fácil: "Estamos perdendo as habilidades de cooperação necessárias para o funcionamento de uma sociedade complexa" (SENNETT: 2012, p. 20)

------------------------------------------------

Todo o propósito da divisão é enriquecer a união. 

- Iain McGilchrist

------------------------------------------------

O pertencimento no livro do "emaranhado do bem comum".

O princípio do pertencimento já estava presente no meu livro publicado em 2017 - A jornada no emaranhado do bem comum. Lá já falávamos das conexões que se estabelecem entre o que existe, o que incentiva a inclusão de todos os seres, amplia nossa visão e nos veda o atalho de procurar a solução de um problema na exclusão do que nos desagrada. A solução passa por reconhecer sua existência e autonomia de tudo o que existe, aceitando as contradições e resolvendo a tensão por meio do equilíbrio circunstancial dos fundamentos.

Outros termos pertinentes, derivados ou análogos ao pertencimento: relações, comum, solidariedade, convergência, integração, colaboração, reciprocidade etc.


-------------------------------------------------------------


crédito da imagem:

 Tsunami Green: https://www.pexels.com/pt-br/foto/abstrato-resumo-abstrair-brilhante-5192790/



Nenhum comentário:

Postar um comentário