Aspectos da Realidade


Aspectos da Realidade

A realidade como ela é é formada por inúmeros elementos. Se se aventurar, bem-vind@ ao labirinto do real.

Dentre os elementos da realidade se destaca a junção e mistura de três diferentes aspectos:



Os aspectos da realidade - concreto, abstrato e pessoal - são como os ingredientes da culinária.


Uma comida gostosa.

Todo mundo sabe dizer o que é uma comida gostosa ou não para si. Então a pergunta mais interessante é o que faz uma comida ser gostosa? Ela é gostosa em si, por causa de seus componentes químicos, é gostosa pela ideia que temos dela, ou é gostosa porque a gente acha que é?

Se uma comida é gostosa em si mesma, então toda comida que alguém goste, porque sentiu nela essa gostosura, deveria ser gostosa para todos, o que sabemos que não é verdade. Os vegetarianos não acham gostoso o churrasco que eu gosto, e eu não gosto da "carne" feita de vegetais.

Por outro lado, a química da comida, seus sabores, conservação, temperatura, aparência etc influenciam sim e muito no aspecto concreto do gosto.

Se uma comida é gostosa pela ideia que temos dela, então todos achariam gostosa a comida mais nutritiva e saudável, pois é sobre essa que temos a melhor ideia de ser algo bom, e bom é para ser gostoso.

Por outro lado, sabermos que a comida é vista como comida por nós (não é carne humana, todo mundo concorda, cérebro de macaco, a maioria concorda, miúdos, escargot, vários concordam etc.) é um aspecto abstrato fundamental do gosto, o que se prova se viajarmos para um lugar, comermos algo que achamos que é um tipo de carne e depois descobrirmos que é outro (gato, cachorro, papagaio, o que for).

Se uma comida é gostosa pelo aspecto pessoal, porque o meu gosto a torna gostosa, então o meu gosto seria livre para escolher que comidas acha gostosa e quais não acha, e pessoas de uma mesma cultura, ou criadas como um mesmo hábito alimentar, mas que são pessoas diferentes, não gostariam das mesmas comidas.

Por outro lado, influencia o gosto da comida, pelo aspecto subjetivo, se estamos alegres ou tristes, famintos ou enfastiados, distraídos ou atentos, doentes ou saudáveis, se conhecemos a comida ou não, comemos na infância ou não, e assim por diante.

Com isso chegamos à conclusão que nenhum fator, por si só, seja ela a concretude da comida, a ideia que fazemos dela, ou o nosso gosto subjetivo, faz uma comida gostosa. O que a faz gostosa é a conjugação criativa dos aspectos concreto, abstrato e pessoal, amalgamados na realidade que sou eu comendo uma comida num certo momento.

E o que vale para o concreto, abstrato e pessoal da comida, vale para todo o resto da realidade.

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Três aspectos básicos de toda a realidade.

A realidade como ela é revela-se como o emaranhado de todas as realidades que, juntas e separadas, a constituem. Dentre os múltiplos aspectos nos quais a realidade pode ser separada e analisada estão os aspectos concreto, abstrato e pessoal. 

A realidade detém aspectos concretos (os fatos), abstratos (as ideias), pessoais (as experiências subjetivas). Assim, nessa perspectiva, algo não é real quando não é, nem concreto, nem abstrato, nem subjetivo.

Quando as realidades se manifestam, ainda que seja com apenas um desses aspectos (se é que isso é possível), elas já são uma realidade. Além disso, os fundamentos estarão, e outros aspectos podem estar, presentes, em um estado atual da realidade.

A realidade, em seu aspecto concreto, contém, dentre outros subaspectos, os fatos, o espaço (aqui, ali, lá), o tempo, as posições e as direções. 

A realidade, em sua propriedade abstrata contém, dentre outros subaspectos,  as ideias, a imaginação, conhecimento disciplinado (as ciências e outros conhecimentos disciplinares), o conhecimento indisciplinado (todo o conhecimento que não é disciplinar), a didática, a linguagem, e assim por diante.

A realidade, em sua propriedade pessoal, contém, dentre outros subaspectos, as experiências subjetivas, as habilidades e formação, a realidade intrapessoal, a realidade interpessoal, a vontade, a confiança (fé, na dimensão religiosa), as sensações, os sentimentos, a percepção, o comportamento, o propósito, os agentes, as organizações, as sociedades, e assim por diante.

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Explicação do que não é: Os três aspectos da realidade não são uma alegoria (embora possamos fazer uma para ilustrá-las, como fizemos com os ingredientes da realidade). A realidade como ela é é, de fato, idealmente, experencialmente e temporalmente, constituída por essas três propriedades. Os aspectos não podem ser separados na vida prática e a realidade não é redutível a um de seus aspectos, embora possa ser vista pela perspectiva de uma delas.

Termos semelhantes: dimensões, propriedades, realidade tridimensional, atributos, ingredientes e qualidades.

Métodos análogos

Platão é um grande nome do estabelecimento da autonomia e importância fundamental das ideias e da dimensão abstrata. 

Aristóteles é um grande nome do estabelecimento da autonomia e importância fundamental dos fatos e da dimensão concreta. 

Michael Polanyi, na obra Personnal Knowledge, é um grande nome do estabelecimento da autonomia e importância fundamental da dimensão pessoal. Dos três, somente o último trata as três dimensões em igualdade de importância e portanto se aproxima mais de nossa abordagem.

Para que serve: Para nos permitir lidar de forma construtiva com o recorrente conflito sobre o que é mais importante: os fatos da realidade concreta, como pensam as pessoas mais práticas, as ideias da realidade abstrata, como pensam as pessoas mais teóricas, ou as experiências da realidade pessoal, como pensam as pessoas mais focadas em pessoas. 

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Três aspectos de uma mesma realidade.

O mais comum é que, o que as pessoas chamam de "realidade" é a realidade imediata, aparente, neste momento presente, e concreta. Todavia essas são apenas algumas partes da realidade, e se quisermos que a realidade seja completa, temos que compreende-la sucessivamente em uma inteireza cada vez maior.

Os três aspectos da realidade são objeto de constante debate, quando se invocam os fatos e o que é objetivo como sendo formas superiores da realidade. Na verdade são aspectos igualmente relevantes, a realidade física, ou concreta, a realidade abstrata, formada por ideias, e a realidade pessoal, tanto intrassubjetiva como intersubjetiva, formada pelas experiências do sujeito.

Assim, os fatos que existem independentes de nós (realidade física), as ideias (realidade abstrata), e o que experenciamos como indivíduos e coletividade (realidade subjetiva) são intrinsecamente existentes e formadores dos fenômenos das realidades que compõem a realidade maior (a realidade como ela é), na qual nos inserimos sem que qualquer desses aspectos possa clamar superioridade absoluta (que não dependa de um certo contexto) sobre os outros e muito menos exclusividade na definição “do que é” a realidade. 

O fato de que a realidade, na prática, não pode ser separada em suas propriedades (embora possa ser separada em realidades menores), não impede que em teoria, ou em ambientes controlados, façamos distinção e tentemos isolar seus aspectos componentes.


O primeiro fundamento - a existência - para entender melhor a realidade como ela é nos leva a reconhecer as coisas como são, antes de simplesmente dizermos que elas são de um certo jeito (o que queremos que sejam) ou que elas devam ser diferentes.


A realidade é maior - maior que nossas opiniões, crenças e ideias - mas ao mesmo tempo compreende essas mesmas opiniões, crenças e ideias. Antes mesmo de nos posicionarmos sobre em que condição se dá essa compreensão - se as ideias vêm antes ou depois - prevalece a verdade de que o que achamos existe “junto com a realidade”, venha antes (como os preconceitos) ou depois (como a racionalização) do objeto de nossa análise.

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Aspecto Concreto



Mesa é mesa,


madeira é madeira.


- Fausto Panicacci

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Explicação do que não é: A realidade concreta não é apenas a realidade tangível, que podemos ver e tocar. Muito da realidade física está distante demais (estrelas), é pequeno demais (elétrons) ou grande demais para que eu o apreenda.


Termos semelhantes: aspecto concreto, propriedade concreta da realidade, realidade física, 


Explicação do que é: É a realidade dos fatos físicos, que independem da nossa compreensão para serem como são. É a realidade tangível, seja para nossos sentidos, seja para os instrumentos que criamos para constatá-la e mensurá-la.


Métodos análogos e referências: As ciências exatas são o método privilegiado para o reconhecimento e reinvenção da realidade concreta.


Aspectos relacionados. Espaço, tempo/realidade temporal, posições e direções são subaspectos, ao passo que a realidade abstrata, a realidade pessoal e a realidade temporal se conjugam com a realidade concreta para formar os três aspectos da realidade.


A realidade concreta se mistura com outras porque ao tocar uma pintura mistura-se com a abstração, ao ver um filme de romance mistura-se com as emoções que sentimos. Assim, embora a realidade concreta seja aquilo que posso constatar, testar, verificar, mensurar, reproduzir, prever, na prática ela está amalgamada com outros aspectos da realidade. 

As coisas podem ser concretas e intangíveis (nível molecular, física quântica, espectros de luz e sons que não captamos etc.) e tangíveis e não concretas (sentimentos de amor, dor, saudades, simpatia, intuições, sofrimento, lembranças pessoais, convicção etc.). 

Por outro lado, as coisas subjetivas também podem ser intangíveis, a própria experiência (inconsciente por exemplo) pode ser intangível ao indivíduo.

A realidade concreta é mutável e se olharmos, por exemplo, para um ovo, que existe fisicamente, a cada dia ele é menos ovo e mais pássaro. então a realidade concreta evolui no tempo, mas não deixa de ser realidade por variar sua forma (de ovo a pássaro) conforme sua propriedade temporal.



Explicação do que não é: A realidade concreta não é apenas a realidade tangível, que podemos ver e tocar. Muito da realidade física está distante demais (estrelas), é pequeno demais (elétrons) ou grande demais para que eu o apreenda.


Termos semelhantes: aspecto concreto, propriedade concreta da realidade, realidade física, 


Explicação do que é: É a realidade dos fatos físicos, que independem da nossa compreensão para serem como são. É a realidade tangível, seja para nossos sentidos, seja para os instrumentos que criamos para constatá-la e mensurá-la.


Métodos análogos e referências: As ciências exatas são o método privilegiado para o reconhecimento e reinvenção da realidade concreta.

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A realidade concreta como um dos três aspectos da realidade como ela é.

A realidade concreta e tangível (não a da astrofísica ou física quântica por exemplo) é a parte da realidade que mais intuitivamente conseguimos compreender. Nossas sensações e sentidos exercem um papel central nessa apreensão quando ela não depende de nossa capacidade de abstração e confiança (acreditar numa realidade concreta que não nos é tangível).

A realidade concreta e os demais aspectos da realidade. 

A concretude da realidade pode se conectar com cada um dos outros aspectos da realidade, exercício que o próprio leitor pode fazer ao acessar o link acima.

A realidade concreta e a realidade que é sobre mim.

O exemplo por excelência da realidade concreta que é sobre mim é o meu corpo, único, singular, pertencente a mim e mais ninguém, que nasceu num momento e se extinguirá em outro para nunca mais ser copiado exatamente por nenhum outro. Corpo esse que é o canal fundamental de contato meu com todo o restante da realidade como ela é.

A realidade concreta e o princípio da existência.

Tudo o que é concreto existe, mas muito do que existe não é concreto. E mesmo muito do que existe não é tangível para nossas sensações e sentidos.

A realidade concreta e o princípio da variação.

A realidade concreta, tais como as demais realidades, varia infinitamente. Assim, variam as cores, os ventos, as montanhas, o movimento da lava, da translação e rotação, a posição de um objeto no espaço e no tempo, o movimento dos seres vivos e o lento movimento dos ditos seres inanimados.

A realidade concreta e o princípio das forças e contraforças.

Muitos dos exemplos dados de forças e contraforças o foram em sua versão concreta - termodinâmica, magnetismo, tensigridade, propriocepção e assim por diante, embora as forças e contraforças existam em todas as propriedades da realidade e não apenas em seu aspecto concreto.

A realidade concreta e o princípio da autonomia.

Cada realidade menor componente da realidade maior última, a realidade como ela é, embora se relacione com outras realidades, e nessas relações se reconfigure, tem, ao mesmo tempo, sua autonomia, sua distinção, seu sentido imanente, seu corpo físico e assim por diante.

A realidade concreta e o espaço, as posições e direções.

De regra, quando falamos em realidade concreta, estamos tratando dos objetos físicos, espaço, posições ocupados pelos objetos e direções tomadas pelos objetos em movimento.

A realidade concreta e a realidade temporal.

O que não existe no concreto atualmente, como o projeto de uma obra que vai se iniciar na semana que vem, deixa de ser concreto? É real?

A realidade concreta e a realidade abstrata.

Excetuando nossos momento iniciais de vida, nos quais tomamos contato direto com a realidade concreta por meio de nossas sensações e sentidos, sem a intermediação de ideias e representações do que é e como funciona a realidade, no resto de nossa vida, estejamos conscientes ou não, nosso contato com a concretude da realidade é acompanhado, quando não intermediado, pelas abstrações que aprendemos e fizemos sobre essa realidade.

A realidade concreta e a realidade pessoal.

Corpos de mesma massa, altura e fenótipo podem ser parecidos na realidade concreta, mas tratam-se de universos singulares camuflados sobre essa aparente semelhança. Palavras faladas, com fonética semelhante, tem timbres, intenções e referências internas únicas a cada um dos falantes.

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A suposição de um mundo materialista 

composto de "coisas" é o maior impedimento

que nós enfrentamos.

- Iain McGilchrist (The matter with things)


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Crédito da imagem Imagem de <a href="https://pixabay.com/pt/users/struppi0601-881433/?utm_source=link-attribution&amp;utm_medium=referral&amp;utm_campaign=image&amp;utm_content=695010">Michael Krause</a> por <a href="https://pixabay.com/pt//?utm_source=link-attribution&amp;utm_medium=referral&amp;utm_campaign=image&amp;utm_content=695010">Pixabay</a> 


Ocorrências.


Realidade temporal. 

A realidade em seu aspecto temporal, que é um componente da realidade concreta, oscila entre seu estado passado, presente e futuro. Assim, algo que foi mas não é mais (uma cidade destruída por exemplo) é parte da realidade em seu aspecto passado, e existe como memória, cultura, princípio. Algo que virá a ser, que já existe como possibilidade, também é parte da realidade, mas como propriedade futura. 

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O que foi existe como passado, o que é existe como presente, o que será existe como futuro.


A realidade, aquilo que é, é sempre real e existente, ainda que sua forma e aparência não se conserve e não seja permanente para sempre, e varie sua estrutura conforme altera-se o modo temporal - passado, presente, futuro.  


Como já vimos, a realidade se manifesta em diversos modos temporais Assim, precisamos saber que a realidade passada (o que já ocorreu), a realidade presente (a situação atual das coisas) e a realidade futura (as situações potenciais, ou prováveis, que podem vir a se manifestar) são espécies temporais da realidade. 

Assim, não devemos confundir a permanência de um estado no qual um aspecto se manifesta com a existência deste próprio aspecto. 


A realidade passada (o que já ocorreu), a realidade presente (o estado atual das coisas) e a realidade futura (as coisas possíveis e prováveis, que podem vir a se manifestar) são diferentes formas, temporais, de manifestação da realidade. 


O império romano por exemplo era mais real quando existia no passado, do que agora, no presente, com suas repercussões na Itália e na Europa? A resposta é sim, mas porque era mais real quando existia como passado, presente e futuro, como uma realidade maior, em comparação com os dias atuais, nos quais sua existência se manifesta apenas na forma temporal passada. 

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Reconhecer o passado, presente, futuro,  e reinventá-los.


O reconhecimento e a reinvenção da realidade temporal, assim como dos demais aspectos, são habilidades fundamentais para nossa convivência em sociedade. 


No caso isso significa reconhecermos aceitarmos nosso passado, de onde viemos, nosso presente, nossa situação atual, e nosso futuro, nossas possibilidade.


E com isso sermos capazes de reinventar nosso passado (ressignificá-lo), nosso presente (para vê-lo "com outros olhos", e nosso futuro (para, dentre todas as possibilidades existentes, buscar outras, novas, para realizá-las).


A Constelação Familiar é um método de formação dessas habilidades de aceitação do passado e criação de um novo presente e futuro. Com ela aprendemos a para de nos debater com o passado, verbalizando para as situações que nos incomodaram e incomodam que 




- “Ao passado cabe o que pôde ser feito."




- "Ao presente cabe... é o que tem para hoje.”




- "Ao futuro cabem as possibilidades que poderão se realizar."



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Quem tem pressa, come cru.


Uma questão-chave para a qual a realidade temporal contribui é tratar do imediatismo que normalmente nos acomete nas situações em que somos imaturos. Quanto mais ansiosos e inseguros em algo, mais queremos isso resolvido imediatamente, ignorando o impacto da realidade passada (e o que ela demanda de nós) e ignorando o futuro, o comportamento sustentável que se demanda de nós para fazer grandes transformações e alcançar grandes resultados.


Às vezes o que há é um simples desconhecimento da prioridade que se deve dar para os objetivos de longo prazo:



 O melhor momento para plantar uma árvore foi há 20 anos. 


o segundo melhor momento é agora.



Eduardo Giannetti na obra auto-engano aborda o tema de uma forma muito interessante. Ele diz que dentro de cada um de nós existem dois eus (convergente com a teoria junguiano da multiplicidade do nosso ego), o eu-agora e o eu-depois.

O eu-agora é um jovem, afoito, cheio de energia e tesão pela vida. Quer fazer tudo agora, não se ressente do passado ou teme o futuro. Quer tomar o mundo em suas mãos, enfrentar os inimigos, conquistar a donzela, viver paixões e, enfim, consumir-se no presente.

Já o eu-depois é um velho, cansado, medroso, cheio de lembranças do que não deu certo, precavido com os perigos da vida, quer fazer as coisas com calma, lentamente, controladamente, de forma sustentável, poupar hoje para ter no futuro.

Assim, nossa realidade pessoal, neste aspecto temporal, na alegoria de Giannetti, é composta do jogo de forças e contraforças que ocorre entre o eu-agora e o eu-depois, entre a satisfação imediata de um desejo e o planejamento racional para realizá-lo no futuro com mais segurança. Eu acrescentaria que essas forças, do passado, presente e futuro, estão em tensão não somente dentro de cada um de nós, mas também na realidade intersubjetiva, na nossa convivência.

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O tempo que passa e o tempo que não passa.


A visão linear do tempo faz com que o vejamos como um asteróide que passa pela Terra para não mais voltar, como se o passado tivesse ido embora, desaparecido. E assim sucessivamente, com os tempos presentes que viram passado, e com os tempos futuros que viram presente.


A visão simultânea do tempo faz com que o vejamos como as camadas de uma cebola, como uma cidade que foi construída sobre outra cidade, que foi construída sobre outra cidade, como algumas descobertas arqueológicas nos mostram.


Pela visão linear, a criança que fomos, e depois o jovem adulto que fomos, ambos não existem mais, fazem parte de um passado apagado da existência. Para nós contudo, não apenas mas também pelo fundamento da existência, todos os aspectos temporais existem simultaneamente, como as camadas internas, intermediárias e externas de uma cebola, que estão todas presentes, cada qual em seu espaço e com sua função, cada qual a sua maneira em nossa vida.


O tempo linear pode ser simbolizado com uma linha contínua na qual futuro e passado são espectros e apenas o presente é real (na verdade, é atual):  



[passado]-----------------------------presente---------------------------------[futuro]


Uma boa forma de ilustrar o tempo simultâneo, bem mais real que o tempo linear, é utilizando o gráfico de 

Gantt, que combina o tempo linear de um evento que tem começo, meio e fim, com outros tempos lineares, formando assim um tempo cumulativo que se manifesta em paralelo por meio de diversas linhas.

Nele podemos ainda apontar a realidade passada que ficou no passado (rpas/rpas), a realidade passada que se mantém no presente (ou seus efeitos) (rpas/rpre), a realidade atual que está apenas no presente (rpre/rpre, como sábio que medita), a realidade futura que já se manifesta no presente (rpre/rfut) e a realidade futura que ainda não chegou (rfut/rfut). 

Nesse quadro, cada realidade, cada aspecto, pode ser colocado em paralelo aos outros, registrando as etapas temporais em que aparece, inclusive de forma intermitente (como ocorre nos ciclos e oscilações), e com isso conseguimos bem representar a coexistência dos aspectos temporais:


RPAS/RPAS     RPAS/RPRE RPRE/RPRE     RPRE/RFUT     RFUT-RFUT

A     ————

B     ———— ————————————-

C —————-

D ————————————————————

E ——————————————

F ———————————————————

G —————

H —————————————————————————————————-

Etc.


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Tempo, tempo, mano velho


Falta um tanto ainda eu sei


Pra você correr macio.


- Pato Fu

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Explicação do que não é: A realidade temporal não é uma linha imaginária onde os eventos aparecem numa ponta (o futuro), vem ao encontro do presente e escorregam para o passado onde são apagados da existência.


Termos semelhantes: tempo,


Explicação do que é: A realidade temporal é o tempo como aspecto integrante de toda a realidade. Esse tempo pode se manifestar de diversas formas, mas esquematicamente se divide em realidade passada, realidade presente e realidade futura.


Métodos análogos e referências: A história costuma cuidar do passado, o jornalismo do presente, e as ideologias do futuro.

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A realidade temporal como aspecto da realidade como ela é.

Estamos todos inseridos no contínuo tempo-espaço da realidade concreta e não há como fugir dele. Ainda assim somos capazes de pensar em seres para além do tempo (Deus é eterno) e que as ideias da realidade abstrata podem ser consideradas atemporais.

A realidade temporal e a invenção da realidade. 

O jogo permite todas as estripulias temporais que a realidade "séria" e científica, ou os dogmas, não permitem. Assim, podemos nos imaginar viajando no tempo (De volta para o futuro é uma série clássica), e intervindo no passado diretamente, em vez de reconhecê-lo e ressignificá-lo que é o que podemos fazer. 

Também jogamos com o tempo quando queremos pará-lo, apressa-lo ou tornar lenta sua passagem, como vemos no filme (vale a pena ver) O Click, com Adam Sandler.

A realidade temporal e a realidade que é sobre mim.

O tempo de cada realidade (uma cidade ainda é iluminada por lampiões, outra já é por luzes Led) é próprio dela, embora queiramos apertar todas as realidades numa mesma linha temporal linear e ordenada (tal como ocorreu na transição do que era antes para depois do surgimento do fuso horário).

Da mesma forma, cada um de nós tem um tempo próprio, de nascer e de morrer, de confiar e de desconfiar, de amar e de ser indiferente, de aprender e de teimar, e assim por diante. Dessa forma, o tempo é mais um dos aspectos que pode ser explorado no domínio que reservamos para cada um de nós, para cada leitor desse texto (ou participante incauto da realidade), refletir sobre nós mesmos, conhecermos a si próprios e sermos capazes de identificar o impacto de quem somos na forma como vemos e compreendemos o mundo:

Não vemos as coisas como são,

Vemos as coisas como somos.

- Anais Nin

A realidade temporal e o princípio da existência.

É fundamental reconhecer que a realidade temporal existe em todas as suas dimensões - passada, presente e futura - cada qual com suas características e impactos, para assim sermos capazes de entender a realidade como ela é.

A realidade temporal e o princípio da variação.

O fluxo do tempo corre, as interações entre passado, presente e futuro abundam. Os aspectos mudam, as realidades evoluem, tudo muda com o tempo e o tempo muda com cada propósito, como diz Eclesiastes:

Tempo de nascer e tempo de morrer,
tempo de plantar
e tempo de arrancar o que se plantou, 


tempo de matar e tempo de curar,

tempo de derrubar e tempo de construir, 


tempo de chorar e tempo de rir,

tempo de prantear e tempo de dançar, 


tempo de espalhar pedras

e tempo de ajuntá-las,

tempo de abraçar e tempo de se conter, 


tempo de procurar e tempo de desistir,

tempo de guardar

e tempo de jogar fora, 


tempo de rasgar e tempo de costurar,

tempo de calar e tempo de falar, 


tempo de amar e tempo de odiar,

tempo de lutar e tempo de viver em paz.

A realidade temporal e o princípio do pertencimento.

Todos os aspectos temporais estão conectados entre si e conectados com o restante da realidade. Tudo faz parte.

A realidade temporal e o princípio das forças e contraforças.

As tensões entre o futuro esperado ou temido, o presente consciente ou inconscientemente vivido, e um passado reconhecido como presente e um passado desprezado à lata de lixo da existência são exemplos do encontro das forças e contraforças com a realidade temporal.

A realidade temporal e o princípio da autonomia.

Ao mesmo tempo que todos os tempos integram a realidade maior, a realidade temporal, cada um deles tem as suas próprias características, espaços, funções e, enfim, sua própria autonomia.

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Dentre os subtópicos vinculados à realidade temporal temos: 

- Realidade passada,

- Realidade presente,

- Realidade futura,

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Quando a realidade temporal se combina com os 'estados', formam-se os estados passados, estado presente, e estados futuros.

A realidade temporal nos oferece também a alegoria do maestro da orquestra. Dessa forma, tudo cabe na realidade, mas cada coisa em seu momento. Assim, tudo tem lugar, mas cada qual no seu tempo. Ou seja, a questão do timing no qual se fazem as coisas é fundamental. E o maestro é quem coordena os esforços para essa ordenação dos aspectos no tempo. 

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Realidade passada.


Alguns enfoques culturais priorizam as tradições e o passado, como o conservadorismo. Outros priorizam o futuro e suas possibilidades, como os progressistas. 


Algumas vezes tratamos o passado como simples passado que passou (com vestígios ausentes ou desconsideráveis): 


Águas passadas não movem moinhos.


Outras vezes tratamos o passado como uma realidade que ainda se faz presente, direta ou indiretamente, devida ou indevidamente: 

Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça.

De Russel Napier ouvimos que a história - a visão do passado - nem sempre nos dá as respostas corretas, mas sempre nos dar as perguntas corretas, e isso é bastante importante.

De regra não conseguimos ver o passado e o presente num mesmo espaço, mas o talento artístico (Simon Brown no caso) às vezes nos traz surpresas, como podemos ver nesta foto de um navio britânico que afundou durante a II Guerra Mundial: https://rps.org/opportunities/science-photographer-of-the-year/spoty-2020-call/2020-winners/

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Realidade presente.



“O momento presente é a única dimensão da existência que vale habitar. 

Porque é a única disponível para nós. Apesar disso nós vivemos 

a maior parte de nossas vidas em algum lugar 

entre memórias e aspirações, nostalgia e expectativas” 

- Luc Ferry


Existe uma grande tradição que aborda o problema da melhor forma de nós, seres humanos, nos inserirmos no tempo. Uma delas afirma a superioridade do presente que, embora móvel, é sempre o tempo no qual vivemos e podemos agir diretamente, em comparação tanto com o passado quanto com o futuro.

A tradição oriental é bastante forte nesta vertente, como pode-se ver nos ensinamentos do budismo e da meditação em geral: o que vale, é o presente.

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“Uma consciência tranquila pode ser consequência de uma memória fraca”.

Como contraponto podemos afirmar que, embora estejamos no presente a todo momento, não podemos dizer que desembarcamos direto do éter, do Nada, a cada instante que se materializa no presente. 

O fato é que chegamos ao presente vindos do passado, e de onde viemos importa sim, e muito. Aliás, vale lembrar que o passado foi construído por meio do presente, então, de certa forma, é um presente preservado.

Assim, um elogio exagerado e confortável do presente poderia esconder - dos outros e de si próprio - nossas limitações, nossas falhas, nossas tendências e nossas origens.

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“Saber exatamente qual a parte do futuro que pode ser 

introduzida no presente é o segredo de um bom governo.”

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Embora viver sonhando no futuro, em prejuízo do presente e do passado seja um problema, essa questão pode ser abordada com a integração dos diversos aspectos temporais. 


Uma das formas é a integração hábil e estratégica no presente de aspectos do futuro que, bem medidos, nem nos deixam relapsos em nossa zona de conforto, nem precipitam efeitos colaterais não administráveis em vista de se agir apenas com base num futuro que o presente ainda não comporta.

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Realidade futura.


Todos nós viemos de um certo passado, estamos num certo presente e, em princípio, a reta entre esses dois pontos é aproximadamente a nossa trajetória atual em direção ao futuro. Mas sempre podermos reinventá-lo (concreta, pessoal ou abstratamente), desde que partamos da realidade como ela é. 


Tem alguma importância a diferenciação entre um futuro-presente, que está na iminência de acontecer, cuja probabilidade de um evento previsto é bem alta - como o ônibus que observo no terminal, e que vai partir em 3 minutos, conforme a tabela de horários - e um futuro-futuro, como a questão do que eu comerei no almoço daqui a 3000 dias (se é que comerei, mas assunções aqui são muito mais incertas).

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Ansiedade é o excesso de futuro.

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A realidade temporal como subaspecto da realidade concreta.

O tempo e o espaço concreto formam o contínuo espaço-tempo aludido por Albert Einstein. O tempo medido pelo relógio de pulso, ou pelo relógio atômico, é o tempo da realidade concreta.

A realidade temporal e a realidade abstrata.

Todos sabemos que as ideias tem uma relação peculiar com o tempo. Embora nasçam, envelheçam e até morram aqui em nosso mundo da vida, por vezes voltam à vida, recriam-se, reproduzem-se, tudo enfim, sem deixar de nos dar a impressão que poderiam habitar um espaço atemporal, eterno, o que inclusive foi proposto por Platão.

A realidade temporal e a realidade pessoal.

O tempo pessoal é diferente do tempo concreto. O que um relógio mede como uma quantidade igual de tempo passa diferente para uma pessoa nova ou velha, satisfeita ou com fome, interessada no momento ou enfadada, assim, a realidade temporal pessoal tem uma certa autonomia em relação à realidade temporal concreta.


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Crédito da imagem: Imagem de <a href="https://pixabay.com/pt/users/nile-598962/?utm_source=link-attribution&amp;utm_medium=referral&amp;utm_campaign=image&amp;utm_content=620397">Nicole</a> por <a href="https://pixabay.com/pt//?utm_source=link-attribution&amp;utm_medium=referral&amp;utm_campaign=image&amp;utm_content=620397">Pixabay</a>

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Espaço.  


Realidade Inorgânica. 


Realidade Orgânica. 


Realidade Vegetal. 


Realidade Animal.




Aspecto Abstrato


  



A imaginação é mais importante que conhecimento

- Albert Einstein


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“O papel aceita tudo”.


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Explicação do que não é: A realidade abstrata não é apenas os conceitos escritos nos livros ou as ideias que temos na cabeça e não é especialmente algo que se opõe à realidade, confusão clássica para quem acredita que a realidade concreta é a realidade verdadeira (todo do qual a realidade concreta é parte). E também não se confunde com a razão pura, posto que a razão não é atributo de um ser onisciente, mas obra humana incompleta e incoerente como todas as demais obras humanas.


Termos semelhantes: aspecto abstrato, propriedade abstrata da realidade, realidade abstrata, ideal, conceitual, 


Explicação do que é: A realidade abstrata é composta de todas as ideias e conceitos, estejam eles em que meio estiverem (num livro, em nosso raciocínio ou memória, no software de um computador, na concepção ideal de um objeto que se materializou na realidade concreta e assim por diante. 


Métodos análogos e referências: O pensamento humano é a fonte da realidade abstrata. Os conhecimentos, sejam os disciplinados (como as ciências), sejam os indisciplinados (todo aquele que não é reconhecido como disciplinar), são os frutos.


Aspectos relacionados. A realidade, em sua propriedade abstrata contém, dentre outros subaspectos,  as ideias, a imaginação, conhecimento disciplinado (as ciências e outros conhecimentos disciplinares), o conhecimento indisciplinado (todo o conhecimento que não é disciplinar), a didática, a linguagem, e assim por diante.

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A realidade abstrata como um dos aspectos da realidade como ela é.

Todas as concepções teóricas e abstrações que fazemos sobre as realidades e os aspectos compõem a dimensão abstrata da realidade como ela é.

A realidade abstrata e a invenção da  realidade. 

Os jogos de linguagem de que fala Wittigenstein, nossas brincadeiras e simulações mentais que fazemos da realidade são todos exemplos do encontro da realidade abstrata com o domínio do jogo.

A realidade abstrata e os demais aspectos da realidade. 

Quando falamos dos aspectos, embora eles possam ser concretos, abstratos e pessoais, é muito comum que estejamos falando deles em sua dimensão abstrata, ou seja, dos aspectos como conceitos da teoria da realidade como ela é.

A realidade abstrata e a realidade que é sobre mim.

No encontro do que eu sou e da realidade abstrata geral forma-se a realidade abstrata na qual eu vivo, com minhas ideias, minha visão sobre o mundo, sobre mim e assim por diante.

A realidade abstrata e o princípio da existência.

Todas as abstrações, inclusive as quais dizemos inexistentes, na realidade existem, pelo menos como uma ideia que nega uma ideia. Mas as ideias que negam a existência de realidades coexistem com a própria realidade, como no caso das pessoas que negam o Holocausto de judeus na II Guerra Mundial.

A realidade abstrata e o princípio da variação.

A realidade toda varia o tempo todo, mas as representações que fazemos da realidade costumam ficar estanques e por vezes ficam desatualizadas. Daí, por exemplo, quando encontramos aquele primo distante exclamamos espantados: - Nossa, João, como você cresceu! (espanto que não faz o menor sentido para ele, que tem crescido continuamente nos últimos anos).

A realidade abstrata e o princípio do pertencimento.

A distinção absoluta de conceitos, importante para o nascimento e desenvolvimento da autonomia das ciências tem como efeito negativo a aplicação da abordagem isso ou aquilo aos conceitos, postura que estende aos aspectos abstratos limitações físicas que pertencem aos aspectos concretos e que não são naturais da realidade abstrata, a qual comporta, por exemplo, que um mesmo aspecto abstrato, uma ideia, seja dividida e possuída por milhões de pessoas ao mesmo tempo, o que não ocorre com aspectos, objetos, concretos.

A realidade abstrata e o princípio das forças e contraforças.

O debate de ideias e a dialética são exemplos de forças e contraforças combinadas com a realidade abstrata.

A realidade abstrata e o princípio da autonomia.

As ideias da realidade abstrata tem autonomia em relação aos fatos da realidade concreta e às experiências da realidade pessoal. Como nos demais casos, a autonomia é relativa a certos aspectos, mas não absoluta.


A realidade abstrata contém, dentre outros tópicos: 

- As ideias, 

- A imaginação, 

- O conhecimento disciplinado (as ciências e outros conhecimentos disciplinares), 

- O conhecimento indisciplinado (todo o conhecimento que não é disciplinar), 

- A didática, 

- A linguagem,

A realidade abstrata e a realidade concreta.

O dizer e o escrever são atos da realidade abstrata que se manifestam pela realidade subjetiva (a ação de falar ou escrever) e podem ou não deixar registros concretos (gravação de áudio, escrever na areia etc.).

A realidade abstrata e a realidade pessoal.

Quando falamos do conceito de justiça, por exemplo, estamos na realidade abstrata, mas quando colocamos 10 pessoas para discutir sobre justiça e cada uma delas a vê diferente em diferentes situações, estamos na fronteira da realidade abstrata com as realidades pessoais.

A realidade abstrata e a realidade temporal.

Embora possamos ordenar temporalmente as ideias, como faz a história da filosofia por exemplo, é comum que consideremos os conceitos, em si, como realidades atemporais, existam essas ou não.

Exercícios: 

Questão: O projeto de uma nova ponte foi aprovado e será realizado em 6 meses. A ponte existe? Sim/não, comente.


Caso: Eu e meu amigo vamos, em dias diferentes, passear no centro da cidade mais populosa do mundo. Ele leu um mapa e estudou a área antes, e eu não. Eu passeio nos lugares mais comuns, turísticos, fáceis de achar. Ele, além desses lugares, descobre uma rica variedade de lojas e pontos de freqüência local.  Questão: A realidade abstrata (o conhecimento) determina a realidade pessoal (a experiência que temos da realidade)? Sim/não, comente.


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Crédito da imagem: Imagem de <a href="https://pixabay.com/pt/users/fancycrave1-1115284/?utm_source=link-attribution&amp;utm_medium=referral&amp;utm_campaign=image&amp;utm_content=819371">fancycrave1</a> por <a href="https://pixabay.com/pt//?utm_source=link-attribution&amp;utm_medium=referral&amp;utm_campaign=image&amp;utm_content=819371">Pixabay</a>


Pensar é esquecer diferenças, é generalizar, abstrair. 

- Jorge Luis Borges

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Ao generalizar ganho em abrangência abstrata mas perco em diferenciação concreta.

A realidade abstrata é a dimensão da realidade na qual fazemos as generalizações sobre a realidade. Assim, em vez de eu falar sobre Maria Terezinha Rodrigues de Souza, minha mãe, eu falo sobre "as mães". Em vez de eu falar sobre os livros que vejo agora (em 10/12/2022) em cima da mesa da sala do meu apartamento, eu falo sobre "os livros". 

Falo sobre os políticos em vez de falar sobre aquele ao qual me refiro ou aquele que apareceu no jornal de hoje na hora do almoço. Falo sobre os pobres e não sobre a senhora que vi anteontem na rua ao retornar para casa. Falo sobre os ricos e não sobre o empresário do varejo que conheço e que acorda todo dia as 5h da manhã para sua longa rotina.

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Em teoria não existe nenhuma diferença entre a teoria e a prática. 

Na prática existe.

-  Yogi Berra.

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No famoso quadro de Magritte está escrito: Isso não é um cachimo.

O jogo, entre um cachimbo abstrato, pintado, e o cachimbo concreto, aquele que você pode usar para fumar, é o objeto desta provocação.

Fonte da imagem e análise do quadro: https://arteeartistas.com.br/a-traicao-das-imagens-de-rene-magritte/ 

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Não podemos impedir que um pássaro pouse em nossas cabeças, 

mas podemos impedi-lo de fazer ninho.

- Bíblia sagrada cristã

As ideias nos ocorrem, por vezes inesperada e descontroladamente, passando um período de tempo no qual elas "nos habitam". Mas "nossas" ideias não somos nós, nós somos algo diferente delas.

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Minha cabeça só pensa aquilo que ela aprendeu, 

por isso mesmo eu não confio nela eu sou mais eu...

- Raul Seixas

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 Tudo bem você ter opinião, 

o problema é você confiar nela. 

-  Howard Marks

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Sabemos (eu que escrevo, você que lê, e os demais) quase nada do que há para saber.

O mundo, o espaço e o tempo são infinitamente grandes, e, portanto, nossa capacidade mental, cognitiva e mnemônica para aprender, processar e guardar informações sobre esse mundo é infinitamente pequena. 

Por isso nossas representações da realidade são pobres, limitadas, genéricas, estáticas, porque não temos capacidade individual de compreender e representar a realidade como ela é, em sua completude, variedade e complexidade. E o mesmo serve para nossa limitada capacidade de agir, intervir e controlar o mundo.

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Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo. 

- Wittgenstein

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Ideias. 



Tópicos. 

Página dos tópicos.


Conhecimento disciplinar.



Conhecimento indisciplinar.



Paradigmas da cultura.


 Os Paradigmas da Realidade.


Os Paradigmas da Realidade, Modos da Cultura, Paradigmas de Mundo, ou simplesmente Paradigmas, são grandes explicações de como o mundo funciona e indicações de como devemos nele intervir. 

O paradigma pode ou não ter uma ou mais ciências que lhe estudam, mas não se confunde com esse estudo disciplinado, pois o paradigma é mais como uma moldura dentro da qual vemos o mundo e como uma tinta de certa cor, com a qual em tese pode se pintar qualquer coisa, mesmo as coisas que naturalmente tenham outra cor (fica estranho, mas dá para reconhecer). 

É muito comum que um paradigma seja usado no lugar de outro, mais propício para aquela tarefa (uso da religião como as leis da sociedade, uso da ciência como a fonte de certezas e significado do mundo, uso da política para definir o que é arte de valor, uso da arte para iludir os outros sobre as alternativas políticas, e assim por diante).


O Paradigma da Técnica [PTEC] responde à pergunta fundamental do 'como' fazer algo? Como sair do ponto A e chegar no ponto B, como produzir certo resultado, como empregar certo instrumento. 

A técnica tem relação próxima com a ciência - que tem objetivos maiores de normalização e controle do que obtenção de resultados práticos - mas com ela não se confunde. 

A técnica que se integra com a arte produz o artesanato. Normalmente é um erro se pensar no "como" sem antes ter definido o "porquê" e o "para que".


O Paradigma da Ciência [PCIE] acredita que o mundo todo pode ser disciplinado para caber no método científico, com suas hipóteses, experimentos, ambiente controlado, reprodutibilidade de resultados, revisão por pares etc. etc. 

A ciência tem evoluído muito ao longo do tempo e é a ela que preferimos recorrer quando vamos voar num avião, fazer uma cirurgia cerebral ou cardíaca, usar um veículo automotor, produzir um computador ou celular etc etc. 

Mas o objetivo da ciência, ou em nome dela praticado, de erradicar a dimensão religiosa, artística ou política dos seres humanos é irrealista e tem encontrado um fracasso após o outro, embora mais nas versões de ciências exatas do que nas ciências humanas.


O Paradigma Moral [PMOR]. Nesse paradigma o mundo está inteiro dividido entre amigos e inimigos, entre aliados e adversários, entre bons (nós) e maus (os outros), e entre conhecidos e desconhecidos. O objetivo, nesta perspectiva de que o mundo é um eterno conflito, é vencer, usar os meios necessários para alcançar os objetivos buscados, independente de sua justiça, ponderação, custo, significado. 


O Paradigma da Política [PPOL]. A política pode ser vista como a gestão das questões sociais. Mas mais do que isso ela implica na intervenção nas relações interpessoais com o fim de buscar convergência entre as diferentes perspectivas individuais e coletivas. Quando esse paradigma é adotado, quase tudo que eu toco pode ser usado como um meio para os meus fins, por mais que isso subverta o sentido e vocação original do que eu tomo por instrumento.


O Paradigma da Economia [PECO]. A forma econômica de ver o mundo, nascida da escassez de recursos materiais no mundo, que de regra é sempre menor do que nossas necessidades, busca a eficiência e eficácia do menor gasto de recursos, menor custo, com a maior obtenção de resultados, ou seja, a fórmula de melhor custo-benefício de se fazer algo, ou seja, busca-se gastar o mínimo e obter o máximo com um certo esforço.


O Paradigma da Religião [PREL]  se ocupa com questões centrais da vida tais como: 

a) de onde viemos e qual a origem do mundo? 

b) como está ordenado o universo e qual o nosso lugar nele? 

c) qual o sentido do universo e para onde vamos quando morrermos? 

As religiões oferecem respostas (na visão dos que crêem literalmente) e alegorias (na visão dos que acreditam figurativamente) para grandes perguntas da vida e, a partir delas, desdobram outras tantas regras, rituais e valores. A religião moderna ainda carrega muitos princípios morais que já funcionaram, antigamente, como regras legais de ordenação social do comportamento humano, o que hoje é deixado a cargo da política e do direito na maioria dos países.


O Paradigma da Filosofia [PFIL] é a pergunta, a dúvida, e o que vier junto com elas. A filosofia, num sentido amplo, a urgência individual de questionar e querer entender - e não necessariamente a história da filosofia que conta o que os grandes pensadores já fizeram - é uma forma de abordar o mundo, de entender o mundo, cuja curiosidade supera a utilidade (como na economia), a convergência (como a política), a precisão (como a ciência), a força (como a guerra), e assim por diante.


O Paradigma da Arte [PARS] é o da criação e ressignificação das coisas. Nesse paradigma o autor de uma ação, o gerador de uma obra, está contido no mundo que cria e não é excluído como uma subjetividade inoportuna como acontece em alguns outros paradigmas. 

A arte se revela especialmente no entrelaço entre o autor, a obra e o seu consumidor. Os objetivos da arte variam, mas o paradigma é maior que o objetivo, e a arte nos acompanha, assim como os demais paradigmas, em toda a caminhada humana.


O Paradigma Predominante. A par dos paradigmas mais gerais que relacionamos na teoria da realidade como ela é, temos diversos paradigmas relevantes em nossa sociedade, como o socialismo, o capitalismo, a infalibilidade das máquinas, o paradigma masculino da força, o paradigma feminino da beleza, e assim por diante.


Aspecto Pessoal



    


Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. 

Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, 

além daquele que há em sua própria alma. 

Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. 

Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo. 


- Herman Hesse


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Explicação do que não é: 


A realidade pessoal, as experiências, pensamentos, sentimentos, memórias etc. de um indivíduo não são uma versão pior, distorcida, da realidade concreta. a realidade pessoal é uma realidade em si, de igual estatura da realidade concreta e da abstrata, a partir da qual nos relacionamento com as demais realidades. Teríamos que pensar num planeta sem seres humanos (e ainda assim nós estaríamos pensando... ) para tentar conceber a ausência da realidade pessoal da realidade como ela é.



Termos semelhantes: realidade subjetiva,



Explicação do que é: A realidade pessoal é a própria a cada indivíduo, seja interna ou na convivência com outros indivíduos.



Métodos análogos e referências: a psicologia é o grande ramo de abordagem da realidade pessoal emocional ou abstrata. O médico clínico também faz essa abordagem pessoal na dimensão pessoal concreta. 

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O primeiro aspecto da realidade pessoal torna os demais aspectos da teoria em competências pessoais úteis a cada indivíduo. São três componentes deste subaspecto - reconhecer, aceitar e reinventar - o aspecto original. Assim, p. ex. se reconhece a mudança no mundo, aceita-se e, ao final, se reinventa para obter uma vida melhor. E isso vale e é aplicado a todos os aspectos da teoria. 

A ressignificação faz parte da reinvenção. 

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A realidade pessoal como propriedade da realidade como ela é.

A realidade pessoal, amalgamada com a realidade concreta e a realidade abstrata formam 3/4 das propriedades da realidade.

A realidade pessoal e a invenção da realidade. 

Os jogos tradicionais, de tabuleiro, esportes, etc. tem espaços e regras bem definidas. Mas a vida mesmo por vezes é encarada como um jogo, como o jogo da sedução, o jogo político e assim por diante. Nesses casos, onde há mais liberdade para o que é possível ser feito, a realidade pessoal é preponderante em determinar o desempenho do jogador.

A realidade pessoal e a realidade que é sobre mim.

No encontro desses aspectos temos os diversos componentes, genéricos, da realidade pessoal, aplicados a mim pessoalmente, obtendo assim, um conhecimento de si próprio fundamental para uma vida plena e realizada.

A realidade pessoal e o princípio da existência.

Todos os componentes da realidade pessoal - vontade, sentimentos, propósito etc - existem, mas a realidade como ela é é muito maior do que o que pensamos ou negamos, sentimos, acreditamos ou não.

A realidade pessoal e o princípio da variação.

A realidade pessoal é extremamente variada e múltipla. Variada nas complexidades da realidade intrapessoal, e variada na diversidade dos 8.000.000.000 de pessoas que compõem a realidade pessoal interpessoal.

A realidade pessoal e o princípio do pertencimento.

Não bastasse o ser humano ser um ser gregário, o sentimento de pertencimento a uma família, clã, grupo, nacionalidade etc. é constitutivo da personalidade e bem-estar dos indivíduos. Assim, o fundamento do pertencimento é parte essencial do que é ser humano e de sua auto-realização.

A realidade pessoal e o princípio das forças e contraforças.

Dentro de cada um de nós, vivem forças e contraforças, vontade por um lado e dever por outro, sentimentos por um lado e razão por outro, comportamento por um lado e propósito por outro, além das tensões com nosso ambiente e com as demais pessoas.

A realidade pessoal e o princípio da autonomia.

Igualmente ao fundamento anterior, a autonomia dos indivíduos é essencial para seu desenvolvimento, expansão, diferenciação e autorealização.


A realidade pessoal se relaciona com tópicos como: 

- As experiências subjetivas, 

- As competências da razão generosa, 

- A realidade intrapessoal, 

- A realidade interpessoal, 

- A vontade, 

- A confiança (fé, na dimensão religiosa), 

- As sensações, 

- Os sentimentos, 

- A percepção, 

- O comportamento, 

- O propósito, 

A realidade pessoal e a realidade concreta.

Nosso corpo físico é o epicentro do encontro de nossa realidade pessoal com a realidade concreta.

A realidade pessoal e a realidade abstrata.

Nem toda realidade abstrata está ligada imediatamente a uma realidade pessoal (alguém pensando), mas mesmo as que não estão (os pensamentos num livro, um computador funcionando com um software) costumam ter na origem sua ligação com a realidade pessoal (uma pessoa a concebeu).

A realidade pessoal e a realidade temporal.

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Exercícios.

História: Uma tia sua distante, que você não conhece porque sua família nunca falou dela, lhe deixa uma fortuna de herança. O testamento se perde, você não fica sabendo, e continua vivendo sua vida normal. Conforme o direito, o proprietário dos bens é você, mas você não sabe e por isso não os utiliza. A questão é: você é rico ou não?


História: Eu e meu amigo Pedro, sofremos um acidente de carro e ficamos ambos paraplégicos. Pedro não aceita sua condição e se tornou alguém amargo e preso ao sofá. Eu me motivo, me supero, me torno um atleta paraolímpico, e vivo uma vida feliz. Questão: Como uma situação física idêntica, objetivamente igual, pode gerar efeitos diferentes nas pessoas? 


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Crédito da imagem: Imagem de <a href="https://pixabay.com/pt/users/felixmittermeier-4397258/?utm_source=link-attribution&amp;utm_medium=referral&amp;utm_campaign=image&amp;utm_content=2183637">PayPal.me/FelixMittermeier</a> por <a href="https://pixabay.com/pt//?utm_source=link-attribution&amp;utm_medium=referral&amp;utm_campaign=image&amp;utm_content=2183637">Pixabay</a>


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Estou viajando pela Ásia e num restaurante local como uma iguaria deliciosa, um sabor sutil e agradável. Até eu perguntar ao cozinheiro o que é aquela comida típica e ele me responder que é cérebro de macaco. Imediatamente sinto um mal-estar, refluxo e um gosto estranho na boca. 

Qual dos dois gostos da comida, o de antes, quando eu apreciava o paladar, ou o de depois, no qual eu senti nojo, é verdadeiro? A resposta é que tanto a realidade concreta, o sabor da comida, quanto a realidade abstrata, do que e como ela é feita, influenciam a realidade pessoal, o paladar que eu sinto ao prová-la. 

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Uma grama de exemplos vale mais que uma tonelada de conselhos.

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Conjunção da realidade abstrata - um enunciado - com a realidade pessoal - a pessoa que o enuncia.

Uma boa possibilidade é usar o critério de Michael Polanyi, o conhecimento pessoal: o conhecimento endossado, acreditado e levado a sério pessoalmente por alguém. Para nós tanto faz se ele tem uma pretensão universal (se refere à realidade concreta) ou se não (tem forte presença da realidade pessoal). 

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Enquanto você reza, vá fazendo.

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Todos os ganhos sociais, culturais, científicos, tecnológicos etc, que como civilização alcançamos e que nos permitem como sociedade compreender e agir em escala infinitamente maior do que somos individualmente capazes (tente viver sozinho numa floresta sem nada que você não tenha feito com suas próprias mão para ver), podem nos confundir e dar a impressão que essa capacidade é individual.

Pior, talvez esses objetos da cultura sejam usados pelas pessoas para, erroneamente, alimentar a ideia de somos onipresentes (não há mistério no mundo, embora eu nem tenha saído da minha cidade natal, porque já vi tudo na internet), onisciência (qualquer coisa que eu não saiba posso pesquisar no google e ficar sabendo na hora) e onipotência (juventude, dinheiro e status têm mais chances de levar a esse erro sobre a própria condição pessoal na realidade).

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Falar de touros não é a mesma coisa que entrar na arena.

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Interações do concreto, abstrato e pessoal.


 Se escrevermos uma lista das coisas que estão na nossa mala de viagem, essa lista (concreta) enumera e descreve (abstratamente) uma realidade concreta (as coisas na mala). Nem por isso devemos pensar que uma determina a outra, como no caso de uma detalhada programação a ser seguida numa viagem numa zona em conflito: 


A teoria na prática é outra.


No clássico debate sobre o que determina nossas vidas, se é nossa realidade pessoal ou a realidade concreta que nos cerca, a melhor resposta já foi dada:


 Eu sou eu e minhas circunstâncias.

- Ortega y Gasset


Os impactos das realidades uma nas outras, ora são efêmeros, ora são permanentes:

Nenhuma mente que se abre para uma nova ideia voltará a ter o tamanho original.


Num certo contexto e situação é uma realidade pode tranquilamente prevalecer sobre outras, como no caso abaixo entre a realidade abstrata e a concreta:


Nós sofremos mais na imaginação do que na realidade.

— Seneca


Mas as realidades são igualmente capazes de se reforçarem e expandirem uma na conjunção com a outra:


Todo o nosso conhecimento se inicia com sentimentos. 

- Leonardo da Vinci



A realidade concreta se encontra com a abstrata e com a pessoal, por exemplo, todas as vezes que pensamos (abstração) sobre um local que já visitamos, um local onde nos planejamos para ir, um objeto que procuramos em nossa casa e assim por diante. O aspecto pessoal está em nós pensamos.


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Experiência não é o que passamos, 

é o que fazemos com aquilo que passamos.


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Experiências. 



Realidade Intrapessoal. 



Realidade interpessoal. 



Realidade Extrapessoal. 



Sensações. 



Sentimentos. 



Limites e possibilidades da realidade pessoal. 



Confiança e Dúvida. 



Significado. 



Amor e Poder.




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Imagem 1:Foto de Vanessa Loring: https://www.pexels.com/pt-br/foto/queijo-fatiado-em-tigela-de-ceramica-branca-5971864/

Imagem 2:Dominika Roseclay:  https://www.pexels.com/pt-br/foto/pessoa-vestindo-sueter-bege-segurando-um-mapa-dentro-do-veiculo-1252500/


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